Persistir é fundamental, com alegria é mais ainda...
Meu pai, Rodolpho Jungers, foi um homem extraordinário, pelos exemplos maravilhosos de vida que nos deixou e que, com certeza, forjaram o nosso caráter.
Sua maior virtude era, sem dúvida a honestidade, uma honestidade que ele usava nas mínimas coisas, nunca abrindo mão dela, prejudicando-se muitas vezes, para ser fiel, a si mesmo.
Lembro-me de um fato interessante, quando ele era dono do Pastifício Delícia, que ficava onde hoje é o Restaurante Morumbi. Ele fazia questão de uma contabilidade honesta registrando tudo, religiosamente. E certo dia, dois fiscais fazendários chegaram lá para ver os livros contábeis (não sei se ainda existe isto hoje, mas naquele tempo era comum a visita dos fiscais de renda); mas os dois fiscais foram logo dizendo-lhe que eles não fiscalizariam nada se meu pai lhes desse uma propina. O sangue subiu-lhe à cabeça e aos berros ele disse que podiam ver o que quisessem, porque tudo estava certo e pasmem... ele era muito forte (força adquirida na enxada, que ele cresceu usando) e pegando pelos colarinhos, os dois fiscais, um em cada mão, atirou-os no meio da rua, que naquele tempo, não era calçada, e os dois, envergonhados, limpando a poeira do chão, que lhes ficara na roupa, sumiram dali.
Ele tinha um gênio esquentado, por qualquer coisa, já gritava, mas os empregados sempre o amavam, porque ele era bom demais, com os empregados e suas famílias e com qualquer pessoa que precisasse dele. Fazia o bem sem ostentação, embora se dissesse ateu. Quando me mudei para esta casa onde moro atualmente, um vizinho, o seu Bernardo, hoje com 91 anos, disse-me que devia muito ao meu pai, pois quando chegara, emigrante da Europa, sem um tostão e sem conhecidos, meu pai o ajudou muito, sendo fiador dele não só no aluguel de uma lojinha, como também das compras do seu estoque. Muitas vezes, quando meu pai trabalhava longe de casa, em dias muito frios, chegava tiritando, gelado, porque dera seu agasalho a um pobre da rua.
Mas uma coisa que realmente me marcou nele, foi quando fez uma mega plantação de batatas no vale do Paraíba, importando a semente da Holanda, com enorme financiamento do Banco do Brasil. A batata cresceu maravilhosamente bem e ele marcou um churrasco com o pessoal do banco, na véspera da colheita. Pois bem, uma semana antes, o Paraíba encheu tanto, que toda a imensa várzea onde era a plantação ficou alagada. Ele tirava um pé da planta, com a batata grande, bonita e ao apertá-la, ela era pura água. Ele perdeu tudo naquela plantação, ficou devendo até a raiz dos cabelos, mas fez o churrasco programado.
E eu, preocupada com ele, como reagiria diante de tal catástrofe, e ele, corajoso e persistente como sempre, passou os tratores em cima da plantação e semeou, ali, arroz.
Homem corajoso, que nunca se deixava derrubar pelos revezes da vida, que foram tantos, mas deixou-nos sempre exemplos de luta, persistência, coragem, honestidade, bondade. Que Deus abençoe meu querido pai, onde quer ele esteja.
Um abraço a todos...