Como a vida nos ensina...
Como a vida nos ensina! E como, muitas vezes, agindo por impulso, estamos criando situações proveitosas ou não.
Eu vivi uma experiência interessante, no ano de 1964, se não me falha a memória. Neste ano, peguei algumas aulas na Escola Industrial, quando ela era ainda na R. Candido Vieira.
Fiquei, entre outras, com uma classe, 1ª K e diga-se, de passagem, que o nome da classe, como um todo foi a única que não me saiu da memória: era uma classe noturna, de jovens já inseridos no mercado de trabalho, que só podiam estudar à noite. Embora já trabalhassem, muitos já com mais de 18 anos, mas ainda com aquela ânsia própria da juventude, que deseja viver tudo, rapidamente, como se o mundo fosse acabar amanhã. Este espírito coletivo fazia da classe uma ameaça aos professores: todos os dias, o diretor da escola recebia queixas dos professores e a classe era suspensa, inteira, mas um dia eram os números pares e no outro os impares para não haver prejuízo do ano letivo.
Eu nunca tive uma reclamação contra a classe. Achava os alunos ótimos, cheios de vivacidade e inteligência. Mas um dia.... aconteceu um fato: ao entrar na sala, que milagrosamente estava completa, vi que as carteiras ao lado da lousa lateral, estavam tomadas pelo pó de giz, o que impedia que os alunos sentassem. Eu quis saber quem foi o autor da brincadeira de mau gosto, e é claro, todos ficaram mudos. Daí entrei com o meu discurso, que errar é humano, mas só os grandes homens reconhecem que erraram e blá, blá, blá. Nada. Nenhuma palavra. A classe me perguntou se eu iria pedir a suspensão dela.
Respondi-lhe que, pessoalmente, eu não era a favor de suspensão, mas eu tinha a certeza de que o culpado se manifestaria. Neste momento, levanta-se um rapaz e corajosamente me encara, dizendo ter sido ele o autor da brincadeira. Cumprimentei-o pela coragem e quase que sem pensar, dei-lhe o castigo: deveria decorar, para o dia seguinte, a oração de S. Francisco, para dizê-la diante da classe. No dia seguinte, lá estava ele, com a missão cumprida perfeitamente.
E aí se encerraria o episódio, se .........uns vinte anos depois, mais ou menos, eu chego a uma casa de material de construção, que havia no início da Av. São Paulo e sou atendida por um senhor de barbas fartas, que me perguntou se eu era a professora D. Dorothy. Confirmei-lhe que sim e perguntei-lhe se me conhecia. Ele acrescentou que fora meu aluno. Eu sorri, e como sempre acontecia nestes casos, lhe disse que eu o conhecera criança e agora era um barbudo senhor, como poderia reconhecê-lo? Ele também sorriu e me disse:
Eu era aluno da 1ª K, exatamente aquele a quem a senhora mandou decorar a oração de S. Francisco. E queria muito agradecer-lhe porque a senhora nem imagina como esta oração tem-me ajudado a vida inteira: passei por momentos muito difíceis e me agarrava nesta oração e os superava. Obrigado, professora, pela oração de São Francisco.
Era a última coisa que eu esperava ouvir. Emocionei-me muito e agradeci mentalmente ao Pai, que me inspirara aquele “castigo” tão inusitado.
Um abraço a todos!!